Um Olhar Social e Físico Sobre os Diagnósticos

Sentindo-se triste e deprimido? Reflito sobre a importância de olhar para o contexto social e de vida antes de diagnosticar um transtorno. Responsabilizar a pessoa pelo seu próprio sofrimento é comum na nossa sociedade, que visa o mérito e a individualização dos processos. Porém desemprego, pobreza, horas excesivas de trabalho, falta de tempo para lazer e família também geram sintomas como ansiedade, tristeza, pânico, estafa, perda de identidade, sentimentos de impotência, etc.

“As enfermidades psíquicas são a conseqüência do caos sexual da sociedade. Durante milhares de anos, esse caos tem tido a função de sujeitar psiquicamente o homem às condições dominantes de existência e de interiorizar a dinâmica externa da vida. Tem ajudado a efetuar a ancoragem psíquica de uma civilização mecanizada e autoritária, tornando o homem incapaz de agir independentemente.” –  (Wilhelm Reich)

      Antes de diagnosticar uma depressão por exemplo, é importante também olhar para a saúde do seu corpo, já que alguns fatores emocionais se relacionam com nossos sintomas físicos. Por exemplo exemplo cito casos clínicos que chegaram com queixas de depressão, relatando falta de vitalidade, fadiga, falta de interesse e motivação. Porém, após algumas sessões e investigação percebemos que se tratava de uma hepatite que atacou o fígado, causando fadiga crônica; já outro caso estava com hipoteireoidismo causando perda de motivação e falta de energia, e por último outro caso estava com falta de vitamina b12, essencial para que a pessoa sinta bem estar e tenha energia para processos vitais. Mostraram melhoras após tratamento físico concomitantemente com o psicológico.

Outro exemplo é um caso que atendi no qual a queixa era depressão, mas após alguns encontros o que apareceu foi um Burnout, de um trabalho excessivo que pagava o básico de sua vida e não trazia recompensas. Secundariamente ela apresentava os sentimentos deprimidos, não era a causa principal, como nos casos anteriores.

Não digo que em nenhum caso não houve necessidade de encaminhamento para psiquiatra e uso de antidepressivos, claro que bem indicados podem ajudar em certas queixas, como no caso do Burnout, o que trago é a importância de olhar para os fatores sociais e físicos concomitantemente com o emocional e psicológico para construção de uma saúde mental completa, e não incentivar a patologização das pessoas e medicalizar sem necessidade ou sem olhar a fundo o que causa de fato aquelas queixas trazidas, perpetuando assim o problema. A psicoterapia reichiana trouxe benefícios em todos os casos apresentados, já que lida com o aprofundamento das questões trazidas e a importância de também olhar as questões sociais e físicas implicadas no processo de adoecimento psiquico.