Processo de Encouraçamento e a Psicoterapia Reichiana

“(…) As enfermidades psíquicas são a conseqüência do caos sexual da sociedade. Durante milhares de anos, esse caos tem tido a função de sujeitar psiquicamente o homem às condições dominantes de existência e de interiorizar a dinâmica externa da vida. Tem ajudado a efetuar a ancoragem psíquica de uma civilização mecanizada e autoritária, tornando o homem incapaz de agir independentemente.“ (Wilhelm Reich)

     Numa sociedade em crise sistêmica o ser humano acaba vivendo num estado de stress constante. O medo se manifesta no corpo através de tensão e encouraçamento muscular, ou seja, enrijecimentos musculares crônicos. O ser encontra formas de se defender do stress e frustração e adquire o que chamamos de sintomas, visando se proteger de um ambiente hostil.

     A psicoterapia reichiana olha para os sinais do corpo físico e os relaciona com os conflitos emocionais e vice versa. É aquele nó na garganta de palavras não ditas, a dor de cabeça de tantos pensamentos e estímulos ao mesmo tempo, a dor de estômago e acidez que se relacionam com raiva acumulada, etc. 
O processo de “encouraçamento” é uma defesa natural do nosso corpo e nos ajuda a sobreviver perante as inúmeras dificuldades da vida, mas com o tempo torna-se nossa única forma de resposta, independente do contexto. A psicoterapia ajuda a flexibilizar essas defesas da personalidade e a criar novas formas de estar no mundo menos sofridas. Além de promover acolhimento, contorno e limite (corporal) para reorganização e reequilibrio do corpo/psique.

 

Todo mundo é quebrado.

Despedaço que se sente calado. E de tão escondido nem percebes, mas é corte que arranha continuamente. Sustenta tuas feridas sem olhar, ou sente e finge que não, achando ser mais fácil (con)viver. Às vezes é mais exposto, sangra profundo e aberto, te parte num estrondo, se faz ver. Espalhado pelo chão, parece que não dá pra se juntar.

Mas se vive é de remendos. Tecendo seus medos até o partido em si virar potência. Dando voz para suas dores que elas se rearranjam. Cata o que conseguir e cria a forma que te for possível. Gruda tuas partes com a cola que inventas, não da pra fugir dos seus cacos. Tudo que não se cuida acumula. Expõe seu mosaico, um que reflita suas marcas. Aos poucos cicatrizam, no encontrar de um outro sentido que floresça seus pedaços inteiros e também rachados, mas integrados e sem se perder no que não encaras.